Especialistas afirmam que o homem pode continuar fértil e voltar à vida sexual normal até um ano depois da cirurgia
Após sofrer com um câncer, o norte-americano Thomas Manning, de 64 anos, foi obrigado a amputar o pênis. Três anos depois, ele foi submetido a um transplante do órgão
. Ele é o primeiro dos Estados Unidos e o terceiro homem no mundo a realizar esse tipo de cirurgia.
O transplante foi realizado no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, neste mês. A cirurgia durou 15 horas. E agora, como será vida desse homem? Quando ele voltará a urinar normalmente ou ter relações sexuais? A cirurgia compromete a fertilidade? Procuramos especialistas para solucionar essas e outras dúvidas.
Em entrevista ao Deles , o urologista André Guilherme Cavalcanti, chefe do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia, explica que, como qualquer transplante, o órgão é retirado de um doador, preparado e implantado no receptor. Nesse caso específico, foram utilizadas técnicas microcirúrgicas para unir o órgão, vasos e nervos. "É necessário unir a uretra e os corpos cavernosos que formam o pênis". Ele ainda conta que a equipe dessa cirurgia é composta por urologistas, cirurgiões plásticos e microcirurgiões, como no caso de Thomas.
Outro especialista, o também urologista Eduardo Bertero, comparou o procedimento com o transplante de rim e conta que o órgão é retirado de um homem que teve morte cerebral. "A altura do segmento a ser amputado do doador pode variar, mas em geral é bem próximo à base (púbis)".
Tanto André quanto Eduardo afirmam que o transplante é indicado em casos como câncer no pênis ou quando o órgão genital sofreu algum trauma grave.
Riscos do transplante
Segundo Eduardo, os riscos de um transplante são os mesmos riscos inerentes a qualquer cirurgia. Mas além disso, existe a possibilidade do corpo rejeitar o órgão e algumas chances de infecção e necrose dos tecidos.
Volta à vida normal
O cirurgião responsável pelo transplante de Thomas afirmou que o paciente demoraria alguns dias para voltar a urinar normalmente, enquanto isso, ele tem que usar uma sonda. "Estes pacientes devem permanecer com uma sonda na uretra entre 2 a 4 semanas", explica André, que ainda diz que após a retirada, é possível que tenha complicações.
Já no caso da vida sexual, os dois especialistas têm opiniões divergentes. Enquanto Eduardo dá um prazo de um ano para voltar "tudo ao normal", André é aposta em um espaço de tempo menor: "Se todas as suturas entre vasos e nervos ficarem adequadas e funcionantes, é necessário um tempo de recuperação de provavelmente alguns meses para que o órgão esteja reabilitado".
Ele ainda confirma que sim, o homem que fez um transplante de pênis pode continuar fértil. "Depende do tipo da amputação que ele sofreu e de como estão preservados os órgãos relacionados à fertilidade (testículos e próstata). Se a amputação envolver os testículos, o homem perderia a fertilidade. Se envolver apenas o pênis, não", detalha o urologista.
No caso de Thomas, que tinha câncer, Eduardo explica que aconteceu a amputação parcial do pênis. Sobrou 2 cm de segmento, sendo impossível manter relações sexuais. "Este paciente tinha um câncer de pênis que acabou levando a amputação. O transplante neste caso teve como objetivo reabilitar o paciente", conta André.
No Brasil esse tipo de procedimento ainda não é realizado. Os médicos consultados explicam que a cirurgia ainda está em fase experimental e depende de um aval das Sociedades Médicas.