A sensibilidade ligada ao universo do escritor pode, sim, seduzir as mulheres
Alex Bezerra de Menezes acaba de lançar “Depois Do Fim”, seu segundo romance. A obra ambientada entre São Paulo e Pernambuco aborda um turbilhão de mudanças sociais, políticas, econômicas e tecnológicas vividas pelos brasileiros nas décadas de 1990 e 2000; desde a eleição de Fernando Collor, primeiro presidente eleito democraticamente no Brasil.
Aos 43 anos, Alex é advogado e ficcionista. Em 2005, publicou seu livro de estreia, "Incandescências", de forma independente. Um ano depois, escreveu um a peça "O Bibliômano", que teve a glória de uma única encenação. Em 2008, ministrou cursos, palestras e deu entrevistas sobre a vida e a obra de Machado de Assis, de quem diz ser amigo íntimo e chegou a participar de programas de televisão, inclusive, sentou-se no sofá de Jô Soares para falar sobre seus aprendizados.
Por isso, Alex é indicado para responder a algumas dúvidas que surgem sobre o meio em que circula. A seguir, um breve papo com ele.
iG Deles: Como se tornar um escritor?
Alex Bezerra de Menezes: Posso dizer que me tornei escritor por um enorme acidente de percurso e providencial contribuição do acaso. Se tivesse de agradecer a alguém por esse desafio que me impus, porque escrever é um desafio, agradeceria ao acaso. Acho que o Acaso é um tipo de deus sem igreja, e que continue assim. Sabe aquela música do Titãs? “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído…”; e olhe que quase nunca ando distraído! Como o ato da escrita é um processo além de solitário, sofrido, tenho contas a acertar com o Sr. Acaso!
iG Deles: Como começou a escrever e por que é fundamental também na sua vida?
Alex Bezerra de Menezes: Comecei a escrever para preencher uma lacuna existencial que na verdade acho que nunca existiu. Eu criei a lacuna para me desafiar. Não sei se o objetivo foi querer um pouco zombar da condição humana e, sobretudo, da 'minha condição' que me permitiria ser qualquer outra coisa, menos escritor. Daí que escrever passou a ser uma extensão do meu modo de viver e de fazer com que a literatura filtre o mundo para que eu possa enxergá-lo com olhos infantis. É um modo de sobreviver instalando um sorriso numa face que pede lágrimas.
iG Deles: Dá pra viver de publicar livro?
Alex Bezerrra de Menezes: Dá, claro que dá! Desde que se seja um escritor que tenha ideias convencionais para um mercado não convencional. E não digo isso por despeito a figuras como Paulo Rabbit (Coelho). Ele tem o seu valor. Muito embora o leitor de livros ditos “comerciais” esteja em outra esfera do mercado de livros; pois o imagino como um consumidor de fast food. É o fast booker. Ele tem pressa, come com pressa, lê com pressa. Será difícil a ele degustar uma obra, por assim dizer, de maior calibre, que exija mais atenção. Van Gogh, ao ter seus quadros rejeitados, disse ao seu irmão Théo: “Do meu trabalho resultam telas feitas velozmente. Mas bem calculadas de antemão. E quando disserem que é coisa feita demasiadamente rápido, diga que viram demasiadamente rápido". Van Gogh é um profeta! Previu Mc Donalds das artes...
iG Deles: Homens que escrevem livros são mais interessantes para as mulheres?
Alex Bezerra de Menezes: Olha o tamanho da enrascada! Deixa eu ver como eu posso escapar dessa armadilha (rs). Os poetas em geral tem esse sex appeal. Nutrem a fama de conhecer os labirintos da alma feminina, o que convenhamos, é um desafio e tanto!, mas o trato com a palavra, com tons de sensibilidade que estão ligados de alguma forma ao universo do escritor pode, sim, seduzir.
iG Deles: O que indica para quem quer se jogar no universo literário mas não tem editora?
Alez Bezerra de Menezes: O primeiro passo para quem quer escrever é, antes de tudo, ler. Ler, ler e ler. Depois disso, de fazer com que as palavras se dissolvam por entre sua pele até enquanto dorme, aí pode-se pensar na etapa chata, técnica e burocrática de publicar. No entanto, com as mídias sociais tão à mão e com acessos tão fáceis, presumo que a forma como o escritor se relacionará com o leitor mudará drasticamente. Ou já mudou. Assim como as gravadoras e os grandes músicos migraram sua forma de divulgar seu trabalho, tal fenômeno já se dá com o mercado editorial. Fazendo um bom trabalho, a chance de ser visto fará do aspirante a escritor ser procurado, em vez de procurar para ser publicado.