Pai pela primeira vez, Mario André, de 35 anos, fala sobre unhas e dedos roídos horas antes do nascimento da primeira filha, algumas trapalhadas por nervosismo e superação de trauma
Antes de sair de casa, tinha calculado o tempo do trajeto e estava tudo certo: apenas 5 minutos eram necessários para chegar à maternidade. Por isso, dormi da meia-noite às 2h30, acordei e fui fazer a barba para ficar bonito nas fotos com a bebê. Quando a Taís me viu, já rolou o primeiro estresse: "Fazendo a barba a essa hora?". Respondi com calma que daria tempo. E deu.

Aliás, fui dormir tarde porque, na véspera do nascimento da minha primeira filha, teve jogo do São Paulo. E o resultado da partida foi como um recado: meu time venceu de 4 a zero o Toluca pela Taça Libertadores. Nossa, meu time ganhou bem, melhor jogo depois de dois anos e pensei: "Então, tudo vai correr bem no nascimento dela". Era o que precisava para fechar meu pensamento positivo na hora de ir para o hospital. Quem me conhece sabe que futebol é uma grande paixão - além de fazer parte da minha rotina de trabalho, já que sou editor de esportes. Era um dia para ficar duplamente marcado na minha vida.

Na maternidade
Na recepção da maternidade, fui providenciar a papelada da internação, o que geralmente é função do pai. Como a cesárea já estava marcada, não houve pressa ou correria, pelo menos não até aquele momento. Em pouco tempo, minha mulher foi ficando um pouco nervosa - ela estava preocupada com a cirugia e a anestesia, acredito.
Ela ficava falando: "Vá lá ver o que está acontecendo, pergunte que horas vão chamar. Não deixe ninguém passar na frente". (Risos) Mas estava tudo vazio. Percebi que ela estava superansiosa e fiquei acalmando-a. "Vai dar tudo certo, já vão chamar", dizia. O parto estava marcado para as 6h30.
Superando um trauma de infância
"Será que entro ou não?".
Quando era criança, assisti a uma cirurgia da minha avó e, assim que o médico cortou o joelho dela, comecei a passar mal e desmaiei. Me lembro de acordar com uma máscara de oxigênio num dos quartos do hospital. Por isso, ultimamente ficava me perguntando se deveria assistir ao parto.
Na hora que o bip tocou, me desesperei e me atrapalhei todo ao mesmo tempo. Quando bipou, arrepiei. Não sabia o que fazer, subiu um sangue na espinha. Peguei o elevador errado, fui parar num depósito, numa garagem"
Foi o dia de derrubar o medo. A vontade de ver minha filha nascendo e ouvir o primeiro choro foi o que precisava para superar isso. Eu tenho mania de roer unhas, mas nesse momento, até os dedos estavam destruídos.
Desesperado e atrapalhado
Recebi um bip e fiquei aguardando o momento de entrar no centro cirúrgico, tranquilamente. Eu me sentia preparado, mas, na hora que o bip tocou, me desesperei e me atrapalhei todo ao mesmo tempo. Quando bipou, arrepiei. Não sabia o que fazer, subiu um sangue na espinha. Peguei o elevador errado, fui parar num depósito, numa garagem. Todo esse nervosismo ainda me fez esquecer de pegar a roupinha da bebê, que acabei deixando com a minha mãe. O bipe tocando e eu pensando: "Caramba, para onde vou?". No fim das contas, cheguei e entrei.
Minha mulher falou que cheguei transparente no centro cirúrgico porque já sou branco. E o médico falando: "Venha aqui perto para filmar o nascimento". Preferi ficar na cabeceira da maca.

Por causa daquele pano entre o rosto e a barriga da minha mulher, não vi nada sendo cortado. Só senti um cheiro forte de queimado. Aliás, a sala de cirurgia ficou tomada por esse cheiro.
Só depois, vendo a filmagem, notei que dava para ver tudo cortado e o sangue, mas na hora só nem percebi. Passei por tudo isso e não passei mal. Foi uma vitória pra mim conseguir superar esse trauma de infância.

Isabella
E foi emoção demais! Emoção demais, pô! Me tornei pai de uma linda menininha chamada Isabella. Que nasceu às 7h30, com 48 cm, 3,620 kg. Comparando com os outros bebês do andar, ela é enorme. Relutei muito para estar ali assistindo, mas o desejo de ser pai e de ver a minha filha vindo ao mundo falou mais alto que o medo. Valeu muito a pena.
Depois do nascimento, ficamos sexta, sábado e domingo no hospital. Esses três dias foram tranquilos. Ainda não consigo pegar a bebê direito. A Taís fala: "Olha o pescoço dela". Quando a bebê chora no meu colo, a Taís pega e ela para de chorar na hora.
No hospital, está sendo mais fácil do que imaginava. Agora, quero ver como vai ser em casa, a primeira semana. Fico curioso também sobre como vai ser a reação do "irmão dela", nosso cachorrinho Ozzy, um yorkshire menor que a bebê. Acho que vai ser engraçado. Mas isso é assunto para uma próxima.
