Especialistas falam como é possível diferenciar uma versão boa de uma ruim e dão dicas para você aperfeiçoar a forma de degustar a popular branquinha
A cachaça é uma das bebidas mais populares do país e está entre as paixões nacionais. Essa bebida é muito associada aos botecos da vida, é um item essencial da típica caipirinha e também já serviu inspiração para muitas músicas – principalmente no sertanejo –, como o clássico conhecido na voz de Inezita Barroso que diz que é a “com a marvada pinga é que me eu me atrapaio”. E aí, se identifica com esse hino dos cachaceiros de plantão?
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“Essa bebida faz parte da história do Brasil desde a época do descobrimento e seria um fato muito bizarro se ela não tivesse se tornado popular. Mas o termo popular não quer dizer que ela não apresenta qualidade, muito pelo contrário. Hoje em dia ela é um dos destilados mais versáteis do mundo e pode ser envelhecida em mais de 30 tipos de madeiras”, afirma o sommerlier de cachaça e CEO da Middas Cachaça, Leandro Dias.
Ainda existe muito preconceito e estereótipos envolvendo essa bebida alcoólica, mas o especialista garante que, assim como qualquer outra, você vai encontrar versões de péssima e ótima qualidade. O que acontece é que é bem mais fácil encontrar produtos de baixa qualidade no mercado e, por falta de informação, as pessoas acabam comprando versões “genéricas” desse líquido.
“A maioria da população não conhece a variedade e a qualidade das cachaças artesanais de alambique, mas isso vem mudando. Temos mais de quatro mil produtores de versões artesanais pelo Brasil”, comenta o sócio da loja on-line Cachaçaria Nacional, Rafael Araújo.
Pura ou envelhecida?
Se você não entende muito do assunto deve estar pensado como identificar se a bebida é boa ou ruim. A princípio, Rafael explica que ela pode ser pura, ou seja, ela é destilada do caldo de cana-de-açúcar e após esse processo vai direto para tanques de inox para ser envasada, ou pode ser envelhecida em barris de madeira, sendo os mais comuns de carvalho, amburana e bálsamo.
“A graduação mínima da bebida é de 38% de teor alcoólico. A mais forte tem a graduação de 48%. Acima disso já não é considerada cachaça e, sim, aguardente pela legislação brasileira. É o produtor que determina essa graduação a seu gosto”, acrescenta o sócio da Cachaçaria Nacional.
Todas essas informações são mais técnicas, elas até indicam se a bebida é mais forte ou mais fraca, mas essa definição acaba sendo subjetiva porque depende muito do gosto da pessoa que está ingerindo. “Um bom exemplo é uma versão de alambique com graduação alcoólica de 48% e acidez baixa, uns acham que é uma bebida fraca, já outros consideram forte. Tudo depende da experiência e da preferência do apreciador”, relata o sommerlier.
Melhor forma de beber
Ambos os especialistas acreditam que a bebida é bem eclética e deve ser consumida de acordo com o gosto de quem está consumindo. Segundo Rafael, geralmente as pessoas que estão nas regiões norte e nordeste do país costumam deixá-la gelada para beber devido ou clima quente, agora quem está no sul e sudeste prefere ingerir em temperatura ambiente.
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Porém, mesmo cada um tendo um gosto específico, é possível aperfeiçoar a degustação para extrair o melhor da bebida. “Se você quer sentir todos as aromas e sabores da cachaça, minha recomendação é que ela seja apreciada em temperatura ambiente utilizando uma taça padrão ISO”, indica Leandro.
“Dessa maneira você vai poder extrair o que ela tem de melhor para lhe oferecer sem a influência de alguma fruta ou da temperatura muito baixa que pode fazer com que suas papilas gustativas fiquem levemente ‘adormecidas’”, completa.
Harmonização
Assim como o vinho e outras bebidas, você pode harmonizar a cachaça com diversos pratos, por ser muito versátil. Pode ser encontrada em diversos sabores e aromas e também pode ser destilada ou fermentada. Combinar o líquido com a comida não é algo simples, por isso, Leandro separa algumas sugestões:
- Se você está de dieta ou prefere uma comida mais leve, a indicação é combinar uma salada caesar com uma cachaça armazenada em tonel de amendoim do campo com graduação alcoólica de 40% GL;
- Caso seja fã de frutos do mar, aposte em um risoto de camarão com alho poró acompanhado de uma cachaça envelhecida em barris de bálsamo com graduação alcoólica de 42% a 45% GL.
- A preferencia é por carne? Então deguste um churrasco de picanha no sal com uma cachaça envelhecida em barris de carvalho com graduação alcoólica de 40% a 42% GL;
- Agora, se você é daqueles que não resiste a um doce, prove um chocolate com uma cachaça envelhecida em tonel de amburana com graduação alcoólica de 38% a 44% GL.
Fora essas harmonizações, Rafael lembra que também é possível utilizar essa bebida na composição de pratos, tanto salgados quanto doces. São diversas as receitas que levam uma cachacinha no preparo. Também é muito utilizada para flambar carnes.
Temperadas
Você já deve ter ouvido falar das “cachaças temperadas” que muito encontradas em bares e botecos. Esse termo é usado quando a bebida sofre algum tipo de alteração, geralmente é misturada com ervas, sementes ou frutas e pode ou não ter adição de açúcar ou mel. “Isso nada mais é do que dar uma nova utilidade para a bebida agregando novos aromas, sabores e em até alguns casos propriedades medicinais”, fala o sommerlier.
Algumas pessoas também usam especiarias secas como canela e cravo, ou deixam a bebida curtir em frutas cítricas. “A mistura mais tradicional é justamente mel, limão e açúcar. Ainda temos outras misturas, algumas com plantas como Jambu, oriunda do Norte do país, que está fazendo bastante sucesso com o público jovem, pois além de gostosa, deixa a língua dormente”, ressalta Rafael.
Drinques
Além das misturas, essa bebida é muito utilizada como carro chefe para fazer inúmeros drinks. O mais popular e conhecido é a caipirinha, mas existem diversas outras opções que você vai adorar! Os especialistas ensinam dois drinques que vale a pena experimentar.
Leandro começa ensinando uma receita chamada Caipi Santa:
Ingredientes:
- 1/2 limão siciliano cortado
- Capim santo à vontade
- 2 colheres de açúcar refinado
- Gelo
- 50ml de cachaça armazenada em amendoim do campo
- Canela em pó
Modo de preparo: Junte o limão, o capim santo, o açúcar e macere para extrair o suco da fruta. Adicione gelo até encher o copo. Coloque a bebida e mexa. Decore com capim santo e finalize uma pitada de canela em pó.
Já Rafael ensina um drink que tem como um dos ingredientes principais outra paixão nacional: o café.
Ingredientes:
- 50 ml de café expresso (frio)
- 30 ml de licor de cacau
- 50 ml de Cachaça envelhecida em Carvalho
- Grãos de café para decorar
Modo de preparo: Bata tudo em uma coqueteleira com gelo, coe e sirva em uma taça estilo Dry Martini. Decore com grãos de café torrado e sirva.
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Você também pode tentar criar novos drinques com frutas e especiarias que gosta. Ah, só não se esqueça de usar a cachaça como ingrediente principal.