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"Eu nunca fui o cara que sonhava em ser pai ou sonhava em ter filhos. Mas, cara, quando você descobre que está realmente esperando um filho, isso muda tudo. Isso muda a maneira como você vê a vida", diz Kelly Farley

Quando o americano Kelly Farley e a esposa, Christine Farley, começaram a pensar em ter filhos, em 2003, o casal logo descobriu que engravidar não seria algo fácil. Tendo consciência das dificuldades, resolveram recorrer a tratamentos de fertilidade e ficaram em êxtase quando descobriram que finalmente estavam esperando uma menina. Rapidamente, o futuro pai escolheu, junto da parceira, um nome para ela: Katie.

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Quando Christine engravidou, Kelly ficou empolgado com a ideia de ser pai, mas precisou lidar com a dor duas vezes
Reprodução/Facebook
Quando Christine engravidou, Kelly ficou empolgado com a ideia de ser pai, mas precisou lidar com a dor duas vezes


“Eu nunca fui o cara que sonhava em ser pai ou sonhava em ter filhos. Mas, cara, quando você descobre que está realmente esperando um filho, isso muda tudo. Isso muda a maneira como você vê a vida”, diz Farley em entrevista ao portal da revista americana “People”.

O problema é que, quando Christine chegou a 17 semanas de gravidez , no final de 2004, sofreu um aborto espontâneo. Sem saber como lidar com a imensa dor, Farley decidiu mergulhar no serviço e chegou a trabalhar 70 horas por semana. “Nós fomos muito longe para chegar a esse ponto, e perder Katie foi muito devastador. Eu tentei me comportar conforme aprendi na cidade operária em que cresci – sem chorar, porque garotos grandes não choram”, lembra.

Como lidar com a situação?

O futuro pai acreditava que se manter durão ajudaria a esposa a superar rapidamente aquela grande frustração. “Na verdade, eu estava tentando fugir o mais rápido possível daquela situação. Essa foi a forma que respondi a tudo aquilo”, conta. Um ano depois, o casal voltou a fazer tratamentos de fertilidade e Christine ficou grávida novamente, desta vez de um menino.

“Nós dois estávamos realmente com medo. E se não desse certo de novo? E se algo acontecesse novamente? É muito assustador tudo isso, pois eu ainda não havia lidado com a primeira perda, ainda estava segurando toda a dor dentro de mim”, confessa Farley que, infelizmente, teve de enfrentar outro baque, já que o filho dele, Noah, morreu quando Christine estava na 22ª semanas de gestação.

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“Não respondi bem a isso porque ainda estava naquele modo de tentar ser o homem que tenta fugir de tudo. Eu ainda não tinha superado a primeira perda, apenas continuei tentando lutar com a situação, mas simplesmente não funcionou”, relata o americano.

Nos meses que se seguiram, Farley diz ter passado boa parte do tempo na cama sem conseguir superar a agonia que sentia por perdido Noah e Katie. A tristeza não dava trégua e ele conta que simplesmente não conseguia reagir. “Eu me via morrendo, literalmente morrendo. Olhava para o espelho, para mim mesmo, e via que estava perdendo peso. Não conseguia comer, não podia agir. Tudo o que eu conseguia pensar era nos meus filhos”, desabafa.

Dando a volta por cima 

Ao perceber que a situação estava insustentável, Farley resolveu procurar ajuda especializada para entender o que se passava com ele. Foi então que um psicólogo diagnosticou o americano com  estresse pós-traumático e depressão . Nesse momento, o homem passou a participar de grupos para expor sua dor e, dessa forma, aprendeu a canalizar o sentimento de forma diferente.

"Eu sabia que tinha de fazer alguma coisa ou não iria conseguir viver. Então eu fiz. Quando conversei com o especialista, sai de lá pensando: ‘Ok, eu me sinto um pouco melhor’”, conta. Aprender a refletir e aceitar as emoções levou o americano a querer ajudar outros pais que podudessem estar passando por situações difíceis e resolveu expor tudo o que aprendeu em um site chamado “Grieving Dads” ("pais de luto", em tradução livre).

Depois de criar essa plataforma, Farley passou um ano e meio entrevistando outros homens que estavam lidando com a perda de um filho, e, após recolher tantos depoimentos, resolveu escrever um livro. Poder conversar com outros homens fez o americano encontrar a cura que precisava, e a experiência fez com que ele percebesse que ele poderia ser uma pessoa melhor que ajuda os outros.

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"Você não pode voltar a ser o cara que era antes. Todos nós temos uma oportunidade única de reescrever ou escrever os capítulos que estão diante de nossas vidas. Isso é o que levo dentro de mim, tento viver minha vida todos os dias de uma maneira que deixaria Katie e Noah orgulhosos do pai deles. Basicamente, é assim que eu tento viver minha vida”, finaliza.