Paulo Fregonezi tem uma filha de dois anos que gosta de "pedir peito" para ele e o pai não nega. Especialista fala com isso pode fortalecer vínculos
É costume dizer que a única coisa que um pai não pode fazer na criação de um filho é participar da amamentação. Mas, será mesmo? Uma foto de um pai “amamentando” a filha revela que eles também podem participar desse momento com os pequenos.
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Quem protagoniza a foto da " amamentação " é Paulo Fregonezi, de 41 anos, e a filha Celina, de dois anos. O clique foi feito em uma manhã pela mãe, Marcela, de 35 anos. Em entrevista ao Deles , a mãe conta que a filha está em um processo de desmame natural e há algum tempo já não pede o peito de Marcela. No entanto, um dia, ela acordou e pediu o peito do pai, que a menina chama de “tati”.
Marcela diz que o ato de Paulo "amamentar" a filha foi algo que surgiu naturalmente na relação entre pai e filha, não foi algo forçado ou induzido por ninguém. “Quando ela já estava maiorzinha, com mais de um ano, via o pai sem camisa e já ia colocar a boca no peito dele”, relata.
Ao Deles , Paulo conta que esse momento entre ele e a filha surgiu como uma brincadeira, assim como várias outras atividades presentes no dia a dia deles. "É como nos momentos que brincamos de esconde-esconde, por exemplo", fala. O pai também diz que é algo que sempre parte da filha. Quando ela está com vontade, pede o “tati” (peito) para o pai.
Como tudo é apenas uma brincadeira, isso não atrapalha o processo de amamentação real e o desenvolvimento de Celina. "Eu sempre amamentei ela em livre demanda, nunca usei bicos artificiais e o processo de desmame está acontecendo agora, pouco antes de completar três anos, por iniciativa dela", fala.
Amamentação conecta pai e filha
Muitas mães relatam que amamentar é algo que as conecta com os filhos permitindo que fiquem ali por um tempinho curtindo aquele momento a sós com eles. Para Marcelo, é algo parecido. De acordo com ele, participar dessa brincadeira com a filha é mais um ponto de ligação na relação entre eles. “É um agregador do que já é a nossa relação”, fala.
O pai ainda lembra que não é só isso que faz a relação entre pai e filha ser forte, pois ele é participativo e gosta de acompanhar de perto o desenvolvimento da menina. “É o fato de eu ajudar na criação dela”, afirma. Paulo diz que tanto ele quanto Marcela dão banho em Celina, trocam a fralda e executam outras atividades do dia a dia da pequena. Tudo é dividido para não sobrecarregar ninguém.
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“É isso tudo que faz com que a gente tenha uma relação de amor e carinho um pouco maior”, reflete. Para Paulo, o fato de estar tão presente assim na vida da filha contribui para que Celina reconheça que ele está ali para sempre ser um suporte. “Ela pode contar comigo para ajudá-la no que for necessário para o seu desenvolvimento”, finaliza o pai.
Aumentando o vínculo
Olhar a foto de um pai protagonizando esse momento de "amamentação" pode causar certa estranheza em muitas pessoas. Afinal, como assim, um pai "amamentando" a filha? No entanto, a neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento da Universidade de São Paulo (USP), Deborah Moss, explica que para a criança as coisas acontecem de forma lúdica.
“Em uma brincadeira, por exemplo, uma menina pode ser um príncipe, o pai pode ser a mãe, a criança pode ser o papai e assim por diante. Então, o choque é a troca de papéis, do homem ‘representando’ uma mulher, do toque do corpo, de uma conotação sexual, uma erotização da brincadeira, mas, na verdade, tudo não passa de um momento entre pai e filha”, fala a especialista em entrevista ao Deles .
Muitas vezes, o que impede o homem de ter esse tipo de troca com a filha é justamente a erotização que algumas pessoas fazem de algo que deveria ser natural. “Existem pessoas que fazem uma confusão, não sabem separar o que é erótico, sexual de uma relação entre pai e filha, um momento de brincadeira, tranquilo, livre e cheio de sintonia”, comenta Deborah.
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Claro que o pai não precisa necessariamente “ amamentar ” um filho para criar o vínculo com ele, mas também não deve tratar isso como algo proibido caso a criança queira ter esse tipo de contato. A neuropsicóloga diz que a questão não é a amamentação em si, mas o pai mostrar para a criança que está disponível e em sintonia com ela.
“As crianças têm a noção que só a mulher amamenta, até mesmo porque fazem a associação dos animais em que são a fêmeas que amamentam. Os bebês instintivamente já procuram pelo peito no colo da mãe e isso não acontece com os pais. Já no mundo de faz de conta, outras situações são permitidas como trocas de papéis entre homens e mulheres, por isso surge a ideia de que o pai pode, sim, amamentar.”
Deborah fala que do mesmo modo que as crianças acreditam que fadas e bruxas existem, homens podem “ter leite” neste mundo lúdico que elas criam. “No caso de bruxas e de fadas não ficamos questionando que isto não é certo só pelo fato de não existirem no mundo real e isso serve também para o caso deste pai que não reprime a filha de buscar nele a amamentação .”